No meio da agitação própria da época do Natal, nós os cristãos precisamos de um suplemento de interioridade para não reduzir o Natal a uma festa de consumo. De modo particular queremos vivê-lo em sintonia com o Ano Santo da Misericórdia.
A ternura e a misericórdia de Deus
O Natal de Jesus convida-nos a fazer uma peregrinação interior até Belém, a contemplar o mistério que hoje representamos na simbólica do presépio. Na contemplação da ternura do menino, juntamente com Maria sua mãe, descobrimos que a nossa vida pessoal e comunitária é visitada e habitada por um mistério de amor que excede toda a nossa imaginação, todas as nossas previsões e pretensões: a presença de Deus próximo na nossa carne humana, Deus de ternura e bondade, Deus misericordioso.
“Ao ver o mundo oprimido pelo temor, Deus procura continuamente chamá-lo com amor: convida-o com a sua graça, atrai-o com a sua caridade, abraça-o com o seu afeto... A força do amor não mede as possibilidades, ignora os limites. O amor não desiste perante o impossível, não desarma perante as dificuldades” (S. Pedro Crisólogo). É assim o amor misericordioso do nosso Deus. Mesmo quando nos afastamos, não deixa de nos amar, continua a estar próximo de nós com a sua misericórdia, com a sua disponibilidade a perdoar e a acolher-nos de novo e renovar-nos com o seu amor! Abramos-lhe, pois, o nosso coração!
Maria, Mãe de ternura e de misericórdia
“Na sua encarnação, o Filho de Deus convidou-nos à revolução da ternura”, lembra-nos o Papa Francisco apresentando o exemplo de Maria como “aquela que sabe transformar um curral de animais na casa de Jesus, com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura... Sempre que olhamos para Maria voltamos a acreditar na força revolucionária da ternura e do afeto. Nela vemos que a humildade e a ternura não são virtudes dos fracos mas dos fortes, que não precisam de maltratar os outros para se sentir importantes”.
Em todo o Natal está sempre presente a Mãe para nos ajudar a reforçar os laços da ternura e do afeto que nos devem unir a todos como filhos e irmãos. Que “a doçura do seu olhar nos acompanhe neste Ano Santo para podermos todos nós redescobrir a alegria da ternura de Deus”!
Os filhos de Deus, testemunhas de ternura e de misericórdia
É preciso que os filhos de Deus tornem visível aos homens de hoje a ternura de Deus e a sua misericórdia por toda a criatura, mas particularmente pelos pobres, pelos mais frágeis, os sós, os mais desprotegidos, todos os necessitados.
A linguagem da misericórdia e da ternura é feita de atitudes, de gestos e ações concretas, capazes de criar relações calorosas de presença, de proximidade física e proximidade do coração, de partilha das alegrias e dores, de consolação dos aflitos, de perdão entre os desavindos, de fraternidade e solidariedade. Estas relações fazem parte da ecologia da vida humana saudável e feliz, que leva o Papa Francisco a afirmar: “deste modo, qualquer lugar deixa de ser um inferno e torna-se um ambiente de vida digna”. Não há Natal cristão sem esta marca!
Mesmo a nível mundial, antes ainda dos tratados políticos, a misericórdia é necessária para aplanar terrenos e endireitar caminhos, a nível económico, jurídico e político, que abram a uma convivência boa de encontro e diálogo, de entendimento e de paz entre as gentes, os povos e as culturas.
Aproveito esta oportunidade para lembrar aos diocesanos um bom modo de solidariedade e partilha com os mais necessitados neste Natal: a campanha promovida pela Caritas “10 milhões de estrelas – um gesto pela paz”. Por um euro, cada pessoa pode adquirir uma vela para acender na noite de Natal e assim esta a ajudar a dar resposta a necessidades concretas de vítimas dos conflitos no Médio Oriente e também dos mais carenciados em Portugal.
Não tenhamos medo da ternura e da misericórdia!
Santo Natal e abençoado Ano Novo 2016!
+ António Marto, Bispo de Leiria-Fátima
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