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sexta-feira, 9 de maio de 2025

Escutar, conhecer e seguir

11 de maio de 2025 | 4.º Domingo da Páscoa - «Bom Pastor»
DIA MUNDIAL DE ORAÇÃO PELAS VOCAÇÕES
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A fé vive-se numa dinâmica de relação: Deus revela-se e nós acolhemos o seu amor, procurando corresponder-Lhe. Confiamos que Ele, na verdade, quer ser em nós fonte de uma vida boa, bela, feliz, realizada, de vida que não perece, de vida eterna. Com esta confiança, confiamo-nos a Ele, ou seja, acolhemos a sua palavra como aquela que tem a capacidade de nos orientar para a verdade de nós mesmos, para a vida que vale a pena ser vivida.

Os três breves versículos do texto do Evangelho deste 4.º Domingo da Páscoa, o Domingo do «Bom Pastor», oferecem-nos esta síntese do nosso caminho de fé: escutar («As minhas ovelhas escutam a minha voz») é o ponto de partida. Habituarmo-nos a esta voz, à Palavra que é o próprio Jesus. A fé é possível quando não nos centramos apenas em nós mesmos, e damos espaço para que Deus nos fale.

Da escuta nasce, cresce ou revigora-se o conhecimento. Nesta relação a que chamamos fé, não só escutamos, mas percebemos também que somos escutados: encontramo-nos com Aquele que, de verdade, nos conhece mais intimamente. E nesse encontro descobrimo-nos a nós mesmos. Como relação, a fé é certeza de ser conhecido e amado por Deus. Este conhecimento não é uma questão intelectual, mas algo essencialmente vital: «Eu conheço as minhas ovelhas e elas seguem-Me»: conhecer e seguir, deixar-se orientar pela proposta de amor de que se reveste a Palavra.

Escutar, conhecer, seguir: com a confiança que se vive ao longo deste cominho de fé percorrido em conjunto, saber que o Pastor quer dar «vida eterna». A vocação (a resposta vivencial que damos à Palavra de Deus) só é possível neste contexto de fé: escutar, conhecer, seguir.

terça-feira, 6 de maio de 2025

100 anos da Paróquia da Calvaria

Exposição do Centenário da Criação da Paróquia

Durante o mês de maio, está patente, na igreja paroquial, uma nova peça para assinalar o percurso histórico da paróquia da Calvaria. Este mês é dedicado aos Casais de Matos, estando patente a imagem de Nossa Senhora da Guia, Padroeiro do lugar, um Missal já centenário, em latim, usado no culto na Capela (a edição é dos anos 20 do século passado), uma antiga campainha, e um pequeno lecionário, já em português, para uso do povo.

Nas obras de requalificação da capela dos Casais de Matos, em 1980, foi encontrada, sob o altar, uma lápide onde se pode ler: “MANOEL CAITANO CARREYRA DE S PAYO MDCCLXXXI”. Pedra possivelmente sepulcral, que atualmente se pode ver afixada na parede exterior da mesma capela, e que nos aponta a data de 1781. Mas a sua edificação é anterior, pois aparece referida nas Informações Paroquiais de 1758, supondo-se que possa remontar aos finais do século XVII ou princípio do século XVIII.

No seu interior, um retábulo barroco, restaurado em 2017. Retábulo em madeira entalhada e dourada com representação, dedicado a Nossa Senhora da Guia, no nicho central. Aparentemente, apresenta as caraterísticas do “estilo nacional”. O coroamento semicircular do retábulo é encimado por volutas onde estaria um brasão, ladeado por dois meninos e dois anjos, entre decorações vegetalistas e volutas. A faixa central do retábulo é tripartida, estando a imagem central sobre uma base ostentada por um menino e protegida na parte superior por um pequeno dossel, e ladeada por outros dois nichos encimados por dossel e tendo como base dois florões com ramagens vegetalistas pendentes. Neste foram colocadas, a 1 de janeiro de 2019, as imagens de São Francisco e Santa Jacinta Marto. Os três nichos são ladeados por duas colunas salomónicas decoradas com motivos vegetalistas e suportadas por dois meninos.

A imagem de Nossa Senhora da Guia é a original, em pedra de ança, de que foi feita uma réplica em madeira que é usada nas procissões, sobretudo na festa da Padroeira, habitual no final de janeiro ou início de fevereiro, quando da partida dos resineiros para longe deste lugar, também conhecido pela abundância de pessoas que se dedicavam a esse ofício.

sábado, 3 de maio de 2025

A fé é um ato de vontade contínuo

4 de maio de 2025 | 3.º Domingo da Páscoa
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Junto ao mar de Tiberíades, os discípulos voltam ao lugar donde partiram quando começam a sua aventura de seguimento de Jesus. Parecem esquecer a sua missão acolhida nos primeiros encontros com o Ressuscitado: Pedro volta à faina (que tinha abandonado para seguir Jesus) e, com ele, todos os outros. De facto, a fé, o seguir Jesus, não é um dado do passado (dos passos dados antes, das experiências e dos encontros vividos, das palavras escutadas…) mas um acontecimento presente, com o risco constante de voltar atrás: a fé é um processo com avanços e recuos, um ato de vontade contínuo.

O texto sugere a necessidade se de deixar constantemente desafiar para que a passagem da escuridão e esterilidade (a noite em que nada se pesca) passa à luz da abundância (a manhã em que surge Jesus à beira do lago e a pesca se torna abundante), em que o vazio de nada haver para comer se torna prato cheio por Jesus.

É o acolhimento e reconhecimento constante de Jesus que é capaz de recriar a comunidade e de a tornar portadora da novidade da fé. Daí se parte: Jesus é reconhecido: «É o Senhor», diz o discípulo predileto a Pedro. E aquele que tem a missão de confirmar os outros na fé precisa também do testemunho e da profissão da fé daqueles que confirma pela confissão, tríplice, do seu amor. A comunidade vive desta reciprocidade e entreajuda, da partilha dos dons, do amparo mútuo, que encontra sempre em Jesus (o peixe condensa todo o sentido teológico de «Jesus Cristo, Filho de Deus salvador», expressão cujas primeiras letras, em grego, formam a palavra «ichtus» - peixe) e na Eucaristia (o pão da refeição preparada por Jesus) o seu ponto de partida.

Se acreditar é aderir, confiar-se, lançar-se numa aventura de vida, num caminho diário de encontro e seguimento, se a fé é um ato de vontade contínuo, com avanços e recuos, podemos encontrar na comunidade, e sobretudo na comunidade que celebra a sua fé em Jesus Cristo ressuscitado, na Eucaristia, esse suporte para caminharmos com a confiança de alguém que faz da nossa noite dia, da nossa pequenez e incapacidade uma pesca abundante.